SAÚDE E SEGURANÇA OCUPACIONAIS: CONTRIBUIÇÕES DA PSICODINÂMICA DO TRABALHO

Fabrícia Barros de Souza, Camila Nascimento Gomes

Resumo


As contribuições teórico-metodológicas da Psicodinâmica do Trabalho tem permitido a resignificação da atuação do psicólogo em diversos âmbitos, incluindo o da Psicologia Aplicada à Segurança do Trabalho. De forma geral, as demandas das organizações de trabalho nos convocam, enquanto psicólogos, a tornar figura apenas o resultado do trabalho desempenhado pelo profissional, para avaliá-lo e classificá-lo em categorias previamente estabelecidas, tais como“erro”, “fracasso” e “patologia” (DEJOURS, 1997). A visão de trabalhador e de trabalho desta abordagem, no entanto, pode nos ajudar a moderar o foco no desempenho e saúde individuais, convocando os processos sociais, organizacionais e interpessoais a assumirem uma posição igualmente importante enquanto condicionantes do desempenho seguro e de um funcionamento saudável. Considerando o exposto, o presente artigo objetiva promover uma reflexão em torno da teoria e prática da Psicodinâmica do Trabalho, entendendo que o papel do psicólogo, independente de seu foco de atuação é a promoção da saúde e a afirmação da vida. Além disso, será proposta uma metodologia de atuação diante de uma demanda de diagnóstico/intervenção organizacional para promoção da saúde e segurança ocupacionais. Cabe salientar que a metodologia proposta tem sido empregada no Instituto de Psicologia da Aeronáutica e deu origem a ações de prevenção de acidentes aeronáuticos e de trabalho, e a um projeto de acompanhamento psicológico de militares designados para Missões de Paz da ONU. Diante de uma solicitação de intervenção organizacional, o psicólogo, inicialmente, deve se aproximar da organização e de seus trabalhadores, pesquisar sobre os processos organizacionais formais e informais e o arcabouço de normatizações que legitimam os saberes e fazeres cotidianos. Esta etapa pode ser iniciada com visitas à organização, entrevistas com pessoas que ocupem papéis estratégicos naquele ambiente e análise de documentos. Em seguida, deve-se estabelecer que trabalhadores – voluntários – participarão das atividades, e dividi-los em grupos temáticos de discussão, tendo como critério de agregação a natureza da atividade executada. Aos grupos, será então oferecida uma escuta coletiva, com foco na dinâmica prazer-sofrimento no trabalho, a partir da compreensão de que este tipo de escuta pode viabilizar processos de reflexão e de elaboração, que criem uma mobilização entre os trabalhadores, motivando-os a instaurar mudanças no trabalho ou em suas relações laborais (HELOANI;  LANCMAN, 2004). A ideia é fazer com que eles assumam áreas de “co-responsabilidade” (ZARIFIAN, 2001) na construção de boas estratégias de enfrentamento do cotidiano. A intervenção é finalizada com a produção de um relatório contendo a descrição do estudo empreendido e recomendações para aqueles responsáveis pelo planejamento do trabalho, com o objetivo de sensibilizá-los para a necessidade de implementarem ações de gerenciamento do risco e para aspectos de saúde e segurança ocupacional. Por fim, conclui-se que o desafio que se apresenta ao psicólogo nas organizações é o de fugir de interpretações sobre o desempenho e saúde das pessoas e o funcionamento da organização, para construir sentidos compartilhados que viabilizem a mudança nas relações entre as forças que atuam neste campo, e consequentemente, promovam um ambiente de trabalho saudável e seguro para todos.

 


Palavras-chave


Saúde do Trabalhador; Segurança do Trabalho; Prevenção de Acidentes de Trabalho; Promoção da Saúde.

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ISSN: 2176-7777
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